Boletim ClimaInfo sobre as Mudanças Climáticas
NOVIDADES NO CLIMAINFO
Publicamos no nosso website dois textos para melhor compreensão do significado de um aquecimento global de 1,5oC: 'Os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde em cenários de aquecimento de 1,5°C – 2°C – e 3°C' e os 'Os cobenefícios da limitação do aquecimento global em 1,5°C'.
Esperamos que sejam úteis.
EQUIPES DO IBAMA E DO ICMBio SOFREM ATAQUES NA AMAZÔNIA
Sob disparos da retórica incendiária do candidato Bolsonaro, o Ibama e o ICMBio sofreram ataques na Amazônia durante operações de combate ao desmatamento ilegal. Na noite de sábado, em Buritis (RO), um homem ateou fogo em três das dez viaturas do Ibama estacionadas em frente a um hotel. Na 6a feira à tarde, uma ponte foi incendiada na única estrada de acesso à Flona Itaituba 2, em Trairão (PA), isolando uma equipe do ICMBio que verificava em campo um desmatamento detectado por satélite. A equipe foi escoltada pela Polícia Militar até Itaituba.
A matéria da Folha de S. Paulo atribui a animosidade de Bolsonaro em relação aos órgãos a uma multa de R$ 10 mil que recebeu do Ibama por ter sido flagrado pescando dentro de uma unidade de conservação, em Angra dos Reis (RJ). Pode ser, mas esta - muito provavelmente - tem sido alimentada pelo discurso de seus chapinhas ruralistas.
EQUIPE DE BOLSONARO ENSAIA MEIA VOLTA EM RELAÇÃO AO ACORDO DE PARIS E AO MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE
O pessoal que está preparando um eventual governo Bolsonaro andou dizendo que estão revendo as ideias de retirada do país do Acordo de Paris e de subordinar a pasta do Meio Ambiente ao Ministério da Agricultura, entre outras boutades. O candidato e equipe receberam sugestões e advertências sobre as reações negativas que estas provocariam em parceiros comerciais. Produtos brasileiros, hoje tidos como sustentáveis, poderiam perder o atributo e, ao mesmo tempo, a competitividade em importantes mercados. A Europa sinaliza não gostar de quem sai de Paris. E os países árabes talvez não gostem de ver mais uma embaixada em Israel mudar para Jerusalém. Aos poucos, esse pessoal começa a entender a diferença entre os EUA de Trump e a nossa situação de país periférico.
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Pedimos desculpas antecipadas pela “figura de linguagem” abaixo exposta, mas esta veio da transcrição da fala de Nabhan Garcia, pretenso pré-indicado ao ministério da agricultura: referindo-se ao Acordo de Paris, o pecuarista disse que “se fosse papel higiênico, serviria apenas para limpar a bunda” e que “o mundo quer tomar a Amazônia do Brasil”.
O EQUILÍBRIO CLIMÁTICO DEVE SER UMA BANDEIRA APARTIDÁRIA
O coordenador geral e o secretário executivo do Observatório do Clima apertaram o botão de alerta na Gazeta do Povo, de Curitiba: se confirmada a partir de 2019 a ideia de abandonar o Acordo de Paris, a decisão será "uma das maiores, se não a maior ameaça já vista ao patrimônio natural brasileiro desde a redemocratização. Tal fato seria desastroso para a sociedade e para a economia". Os autores lembram que a agenda climática não é apenas uma preocupação ambiental: "Trabalhar pelo equilíbrio climático - seja em hábitos individuais, atitudes organizacionais ou políticas públicas - é determinante para questões como qualidade de vida, segurança alimentar, desenvolvimento econômico, investimentos, infraestrutura, defesa civil e muitas outras".
A mesma Gazeta do Povo publicou há alguns dias a tradução de um artigo da Heritage Foundation (HF) que vê no relatório especial 1,5oC do IPCC um complô contra a livre iniciativa, por este afirmar que a economia global precisa dar uma reviravolta para não deixar o aquecimento global passar de 1,5oC (a HF é um think-tank conservador e negacionista norte-americano).
O MEIO AMBIENTE SEGUNDO OS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA
Giovana Girardi, no Estadão, e Thaís Matos, no G1, elencaram as diferenças entre propostas e falas de Haddad e Bolsonaro sobre o meio ambiente. Haddad promete lutar para zerar o desmatamento até 2022, investir em fontes renováveis e, conduzir uma política ambiental que penalize “o custo da poluição” e “premie investimentos e inovação de baixo carbono". Os dois entendem que o país precisa de mais energia renovável. Bolsonaro, por outro lado, prometeu tirar o país do Acordo de Paris e colocar a pasta do Meio Ambiente subordinada à Agricultura para “acabar a brincadeira dessa briga entre ministérios”. Agora a equipe dele ensaia uma meia-volta (vide nota anterior). Mesmo assim, o Ibope revelou que a população não entende as diferenças entre as posturas ambientais dos candidatos. Vale a leitura das duas matérias.
CIENTISTA DIZ QUE A ECONOMIA SOFRERÁ COM O DESCASO AO MEIO AMBIENTE
O climatólogo brasileiro Carlos Nobre, do INPE, também comentou as declarações de Bolsonaro. Ele fez duas colocações importantes, uma a respeito do comércio exterior e outra dizendo que mais desmatamento é desnecessário. “Os princípios do investimento responsável se voltaram para o uso da terra. A pressão maior vem de grandes redes de varejo internacionais em resposta ao mercado consumidor e aumentará. Estaremos sujeitos a restrições à carne e à soja brasileiras por parte de compradores europeus, japoneses e mesmo chineses. Nossas emissões de CO2 estão atreladas à agropecuária e ao desmatamento associado a ela. É um equívoco político pensar que sair do Acordo de Paris trará tranquilidade econômica para o agronegócio. Ao contrário, tornará o país vulnerável a restrições internacionais. A tendência mundial é não comprar produtos oriundos de desmatamento.” Sobre o país não precisar desmatar mais e, mesmo assim, continuar aumentando a produção agrícola, Nobre diz que “temos terra desmatada e abandonada suficiente para continuar a aumentar a produção (a Embrapa estima em 50 milhões de hectares de pastagens degradadas). Além disso, nossa pecuária é extremamente ineficiente. A produtividade da pecuária na Amazônia equivale a um quarto da de São Paulo, com menos de um boi por hectare. Só com o manejo simples, nada moderno, você pode ter três. Por que precisamos de florestas? Porque é comprovadamente a forma mais barata e simples de assegurar os recursos hídricos, manter o equilíbrio do clima, a fertilidade do solo, a biodiversidade e capturar o CO2 na atmosfera.” https://oglobo.globo.com/brasil/cientista-alerta-que-aumentar-area-da-agropecuaria-destruir-florestas-causara-prejuizos-economia-23173512
MATRIZ ELÉTRICA BRASILEIRA DESCENDO NO RANKING RENOVÁVEL
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), a matriz elétrica do país, que hoje é a terceira mais limpa entre as dos grandes países do mundo - EUA e China estão na frente -, cairá no ranking e será ultrapassada pela Alemanha e pela Índia até 2023. Um relatório da Agência prevê que, até lá, a capacidade das renováveis crescerá dos atuais 134 GW para 149 GW.
ESTUDO DECIFRA OS CUSTOS DAS FONTES DE GERAÇÃO DE ELETRICIDADE
O Instituto Escolhas lançou o estudo "Quais os Reais Custos e Benefícios das Fontes de Geração Elétrica no Brasil?" estimando o custo real de gerar eletricidade usando as diferentes fontes renováveis e fósseis. O trabalho se apoia em dois pilares sólidos: abrir o leque de atributos das fontes, precificando cada um e, apoiado numa respeitável base de dados histórica da geração, simular várias combinações das fontes para compor um cenário para 2026 e outro para 2035. Pelo que foi dito no seminário de lançamento na última 6a feira, é a primeira vez que estes custos são abertos. O primeiro do leque é o mais simples: o custo direto da geração é a soma do investimento com o custo operacional (combustíveis, mão de obra, etc.). Outro grupo de atributos premia ou penaliza a disponibilidade diária da fonte (capacidade de entrar instantaneamente) e a sazonal (cobre os meses mais secos ou sem vento). O terceiro grupo premia ou penaliza a robustez e a confiabilidade das fontes. O quarto bloco contém o conjunto de subsídios, isenções e incentivos que as fontes recebem. E o último bloco contém os custos ambientais.
O resultado mais importante é que o sistema elétrico, atualmente, não leva em consideração todos estes custos. Os leilões de energia são feitos levando em conta apenas o primeiro bloco - o dos custos diretos. Assim, o sinal econômico sai capenga e o sistema, sem precificar todo o conjunto de atributos, fica mais distorcido e mais vulnerável.
Outro resultado importante veio das simulações que mostraram que faz sentido uma matriz elétrica com mais fontes limpas. Em 2035, a capacidade delas pode vir a representar 44% da matriz, não considerando as grandes hidrelétricas como limpas.
No seminário foram feitas sugestões de melhoria e avanços no trabalho. A principal foi a de estimar os custos de novas hidrelétricas com reservatório e dar atenção especial às pequenas centrais hidrelétricas, além da atribuição de custos à perda de biodiversidade e ao deslocamento da população atingida pelos reservatórios.
O estudo pode ser baixado no primeiro link desta nota.
CEBDS LANÇA GUIA DE PRECIFICAÇÃO DAS EMISSÕES INTERNAS ÀS CORPORAÇÕES
Nova publicação do CEBDS sobre precificação de emissões aborda como as empresas podem colocar um preço nas suas emissões. O documento é baseado em um guia da consultoria Ecofys lançado no ano passado. A determinação de um preço para as emissões habilita as empresas a planejarem a transição para uma economia de baixo carbono por meio da identificação de gargalos e riscos às operações.
DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS DOS PAÍSES RICOS ACABARIA COM A FOME NO MUNDO
O Programa Alimentar Mundial da ONU divulgou números sobre o desperdício de alimentos em todo o mundo. Numa frase, o desperdício nos países ricos daria para acabar com a fome no mundo.
- Cerca de ⅓ dos alimentos produzidos no mundo são perdidos ou jogados fora. São cerca de 1,3 bilhões de tonelada valendo quase US$ 1 trilhão.
- A continuar nesse passo, em 2030, o desperdício subirá para 2,1 bilhões de toneladas.
- Quase metade das frutas, vegetais, raízes e tubérculos são desperdiçados.
- Mais de 820 milhões de pessoas sofriam com a fome no ano passado.
- Enquanto a produção de alimentos na África sub-saariana foi de 230 milhões de toneladas, o desperdício dos países ricos foi quase igual - 222 milhões.
- Consumidores norte-americanos desperdiçam quase 0,5 kg por pessoa por dia.
A CRÍTICA SITUAÇÃO DO LIXO NA AMÉRICA LATINA
Cerca de 50 dos 145 milhões de toneladas de lixo produzidos diariamente na América Latina são jogados em lixões e outros arranjos sem o tratamento adequado, segundo o estudo “Perspectivas sobre a Gestão de Resíduos na América Latina e no Caribe” lançado na semana passada pela ONU Meio Ambiente. Na região, só 10% do lixo produzido é reciclado. Isto indica um potencial enorme de redução de desperdício e, também, das emissões associadas, seja por evitar a decomposição da fração orgânica em metano, seja por reduzir a demanda por matérias primas com alta pegada de carbono, como aço e alumínio.
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