Direita e Esquerda: uma breve distinção
Quando se visa abordar a temática dos movimentos sociais e, principalmente, os movimentos sociais de direita e esquerda, que tanto crescem no mundo contemporâneo, sente-se a necessidade de uma explanação ampla a cerca do que vem a constituir “direita e esquerda”. Seriam dois termos totalmente opostos? Ou eles se complementariam?
Em seu livro intitulado “direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política, publicado em 1995, Norberto Bobbio nos apresenta uma conceituação básica acerca da caracterização de “direita” e “esquerda”, bem como refuta a tendência que nega que exista, nos dias de hoje, uma distinção clara e efetiva entre estes dois termos.
Dando sequencia ás suas idéias, explicita que direita e esquerda caracterizam um modo de pensar por díades, e exemplifica dizendo que toda disciplina é dominada por essa forma de pensar: no caso da sociologia, temos a sociedade e a comunidade, no direito, o público e o privado, e na economia o mercado e o plano. De modo que, na política, direita e esquerda sejam concebidos como universos compostos de entes divergentes e que se opõem, sendo, pela própria divisão posta, excludentes: no sentido que em determinada doutrina ou movimento não pode existir simultaneamente a posição de direita e esquerda, bem como exaustivos: delimitando que uma ação apenas pode ser de direita ou de esquerda.
Feitas as explanações devidas sobre como ambos os termos não podem existir de forma simultânea em uma determinada ação política, Bobbio passa a abordar os argumentos usados para refutar que existam diferenças entre direita e esquerda atualmente. Começando por um argumento convencional de que o mundo pós-moderno passa por uma crise de ideologias, o autor contra argumenta dizendo que direita e esquerda são mais do que meras ideologias, constituindo-se através de programas contrapostos em relação a diversos problemas cuja solução pertence à ação política, formando, então, um contraste de idéias, interesses e valores a respeito da direção que a sociedade deva seguir.
Outro argumento que faz alusão ao fim da diferenciação entre os termos aqui trabalhados pressupõe que em um universo político mais amplo e complexo, como o das sociedades democráticas, torna-se inadequada a divisão entre duas partes da política, de modo que exista um pluriverso de valores e modos de pensar, inseridos nas sociedades democráticas, que impossibilitam que a ênfase política seja dada em termos de direita ou esquerda, apenas. Reconhecendo a validade do argumento ao utilizar-se das sociedades democráticas, o autor explica que a distinção entre direita e esquerda não exclui a configuração de uma linha continua sobre a qual, entre direita e esquerda, se colocam posições intermediarias, de modo que metaforicamente falando: entre o preto e o branco, emerge o cinza e entre o dia e a noite: o crepúsculo.
Após algumas abordagens, temos que aspecto mais forte utilizado para contestar a distinção entre direita e esquerda é quando uma destas partes parece suprimida, de tal forma que, com a derrota do fascismo, por exemplo, apenas se ouvia falar sobre a “esquerda”, parecendo a direita ter encontrado o seu fim. Entretanto, a historiografia nos mostra o derradeiro equivoco de tal pensamento, ao se descuidar de uma das partes desta díade, acabamos por não enxergar o seu próprio desenvolvimento.
Podemos influir que não existe apenas uma esquerda tampouco uma única direita. O que Bobbio propõe é a sobrevivência da díade através da multiplicidade de formas que caracterizam esquerda e direita.
Dando sequência ao livro, é essencial destacarmos a importância, no nosso contexto atual, de diferenciarmos aquilo que é moderantismo de extremismo. Nesse ponto, é necessário explicitarmos que existe tanto a esquerda moderada quanto extrema, ou radical, bem como a direita.
O autor destaca de forma enfática que direita e esquerda, quando postas em extremos, possuem pontos em confluência devido ao extremismo, fazendo com que ideologias opostas podem encontrar pontos comuns, como a anti - democracia.
Sobre o moderantismo, podemos observar que se trata de uma vertente que é evolucionista e gradual em suas ações políticas, de modo que considera como guia para a ação a idéia de desenvolvimento, em uma comparação com a biologia, como se as ações gestassem o crescimento de um organismo a partir de seu embrião. Por outro lado, o extremismo é composto pela visão catastrófica que interpreta a história através de saltos qualitativos, e de rupturas bruscas, normalmente contra as virtudes mercantis de tolerância, e toda a “mediocridade democrática”, como alegam os extremistas.
De modo que, em síntese, evidencia-se que direita e esquerda não são dois conceitos fixos e imutáveis. Muito pelo contrário, constituem-se enquanto dois campos inseridos em contextos, dentro de determinado tempo histórico e espaço social, que irão gerar as características que determinarão o que constitui a afirmação de ser de “esquerda” ou então “direita”.